terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Açude que já abasteceu Patos secou completamente e virou cemitério de canoas

Em seus registros, 'Caminhos da Sede', padre Djacy Brasileiro conta o drama de famílias que sobreviviam da pesca no Jatobá, que hoje não tem água nem para molhar pequenas plantações

O açude Jatobá, que chegou a abastecer o município de Patos (no Sertão da paraibano, a 307 quilômetros de João Pessoa), secou completamente. Em seu leito estão espalhadas canoas que eram usadas por famílias que viviam da pesca. Com capacidade para 17 milhões e 516 mil metros cúbicos de água, o Jatobá tem hoje apenas 56 mil e 769 metros cúbicos, o que representa 0,3% do seu armazenamento total.
O município de Patos é abastecido de água do complexo Coremas/Mãe d'Água e pelo açude Capoeira, do distrito de Santa Terezinha, que tem capacidade de 53 milhões e 450 mil mestros cúbicos de água e está com apenas 15,3% do seu total, o que equivale a 8 milhões, 181 mil e 925 metros cúbicos.
Outro açude de Patos é o Farinha, que tem capacidade para 25 milhões,738 mil e 500 metros cúbicos. Está atualmente com 31 mil e 325 metros cúbicos, o que representa 0,1% de sua capacidade.
Em vários bairros da cidade de Patos há racionamento. A única esperança dos moradores é a chuva. O padre Djacy Brasileiro, pároco de Água Branca, que registra a situação dos municípios que sofrem com a estiagem, conversou com famílias que tiravam o sustento do açude de Jatobá. O padre faz divulgação nas redes sociais do seu trabalho, intitulado 'Caminhos da Sede'.
Um desses moradores é o senhor Verinaldo Lima. Ele levou o padre Djacy para ver de perto o leito do açude, um dos maiores da região polarizada por Patos. "Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, seu Verinaldo me contou que o açude de Jatobá era cheio, bonito,viçoso e que abastecia a cidade de Patos.Hoje,para ele, só resta mesmo a lembrança", disse o religioso.
Caminhando a pé pelo leito do açude seco, o padre Djacy observa que o cenário é "de morte, desolação, dor e tristeza". De tão seco, as pessoas que moram próximo do açude cavaram cacimbas no local. No local onde tem a água ela está imprestável para o consumo humano. Dezenas de peixes são encontrados mortos.
Seu Sandoval vai de bicleta para o meio do açude. Tenta pegar água na cacimba que, segundo ele, é para suas plantas.
Outro agricultor que sofre com a falta de água para suas plantações é o seu Sebastião. O padre Djacy  repara que seu Sebastião clama por água como se estivesse rezando e canta, quase chorando, a música 'Asa Branca', de Luiz Gonzaga, ajoelhado no terreno seco onde havia um açude.  O Jatobá, que já foi o principal açude no abastecimento da cidade de Patos, teve sua construção em 1952 no governo de José Américo e sangrou pela primeira vez no dia 25 de março de 1960. Está localizado às margens da PB-110, saída para Teixeira, próximo ao campus da UFCG. É o mais antigo reservatório de Patos e o mais popular. Vários bairros cresceram às suas margens, a exemplo Alto da Tubiba, Mutirão, Nova Conquista e o próprio bairro do Jatobá.


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