segunda-feira, 11 de novembro de 2013

No Semiárido, cisternas alimentam sonhos de famílias mais pobres


Tecnologias de captação e armazenamento de água garantem abastecimento durante períodos prolongados de seca e ajudam a manter a produção dos pequenos agricultores. Inclusão produtiva realiza o sonho de permanecer na própria terra.

“A cisterna me ajudou a realizar o sonho que foi sempre de permanecer na roça”, diz, orgulhoso, o agricultor familiar, Valdemiro Araújo Santana, 50 anos. Morador do município de Teofilândia (BA), hoje ele sobrevive da plantação de hortaliças e frutas, além de criar 30 galinhas na fazenda Maria Preta, perto da Comunidade de Morrinhos. No entanto, até maio deste ano, a rotina dele era bem diferente. Como armador de ferragens, Valdemiro tinha que ir para longe de casa, para trabalhar na construção civil, e ficava três meses sem visitar a família até conseguir uma folga. 
“Essa daí fez com que eu parasse de sair para outros estados para ir para as obras”, conta, apontando para a cisterna de enxurrada instalada em sua propriedade. Essa tecnologia de cisterna, voltada para abastecer a produção agrícola e a criação de pequenos animais, tem capacidade para 52 mil litros e, de acordo com as expectativas de Valdemiro, dá para continuar plantando por um período de seis meses sem chuva.
“Eu sempre gostei de trabalhar na roça, mas nunca tive recursos. Agora, com essa cisterna de enxurrada, eu me encontrei na minha região para trabalhar e sobreviver”, conta Valdemiro.  Gustavo Santana, 15 anos, filho do agricultor, já sentiu a mudança na rotina da família: “O nosso pai está mais próximo da gente.”
A cisterna de enxurrada é construída dentro da terra, ficando somente a cobertura acima da superfície. O próprio terreno é utilizado como área de captação de água. Quando chove, a água escorre pela terra e, antes de cair para a cisterna, passa por duas ou três pequenas caixas, uma seguida da outra, que são os decantadores. Eles retêm os resíduos e fazem com que a água que chega ao reservatório seja mais limpa. A retirada da água para irrigar a plantação e matar a sede dos animais é feita por meio de uma bomba de repuxo manual.
Água potável
Dez anos atrás, em 2003, a família de Valdemiro recebeu uma cisterna de placa, que armazena água para consumo humano. Rosenaide de Jesus Santana, 45, esposa do agricultor, lembra como era a vida antes de a cisterna de placa ser construída no quintal de casa. “Tinha que sair de casa cedo para buscar água em um tanque barreiro. A gente usava uma carroça com uma dorna em cima ou levava um balde na cabeça por meia hora. Dava uns dois quilômetros de distância”, lembra.  A dona de casa disse que sempre tinha alguém com diarreia ou com dor de cabeça por causa da má qualidade da água.
Hoje, Rosenaide cuida corretamente da cisterna e assim a família tem acesso a água de boa qualidade. “Aprendi que antes de beber tem que colocar o cloro, de preferência à noite, para utilizar pela manhã. Quando passa um tempo sem chover, tem que lavar o telhado, também tirar o cano que pega a água para a sujeira não cair na cisterna”, ensina. Cada reservatório, construído com placas de cimento, tem capacidade para 16 mil litros, suficientes para abastecer uma família de cinco pessoas por até oito meses e, assim, amenizar os efeitos da seca prolongada no Semiárido.
A plantação já começa a dar frutos para o sustento da família Santana. Por semana, o casal vende cerca de R$ 160 em produtos nas feiras de Serrinha, Teofilândia e Barrocas. A família também recebe o Bolsa Família todos os meses. “A gente usa para tudo, junta com o [dinheiro] das hortaliças, e vai consumindo de acordo com as precisões”, conta a dona de casa.
Valdemiro Santana deseja alçar voos maiores. Agora, junto dos agricultores familiares da região, está formando uma cooperativa para vender para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e, dessa forma, fornecer seus produtos para os equipamentos e órgãos da prefeitura.  “Tendo a cisterna, tem a água. Tendo a água, a gente consegue ter várias coisas plantadas. A principal fonte de renda da gente começa da água e para mim começou com a cisterna”, afirma.
O programa Água Para Todos, que integra o Plano Brasil Sem Miséria, atingiu em setembro um recorde de entrega de cisternas para o consumo das famílias do Semiárido - foram instaladas mais de mil tecnologias de captação e armazenamento de água por dia (no total, 31.061). Desde 2011, 401,7 mil cisternas foram entregues, sendo que 300 mil são de placas e financiadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e parceiros. A meta do governo federal é chegar a 750 mil unidades até 2014. Em relação às cisternas de produção, o objetivo é construir 64 mil no mesmo período. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário